Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Na manhã desta segunda-feira (24), famílias Sem Terra do Projeto de Assentamento Agroecológico Antônio Araújo, no município de Prado, Extremo Sul da Bahia, iniciaram os trabalhos coletivos na área do Assentamento, tendo em vista que as áreas de Reforma Agrária organizadas pelo MST, têm sido espaços de diálogos, orientação e conscientização na construção de medidas de prevenção contra a crise sanitária do COVID-19. Entre as orientações, destacam-se a importância de manter a saúde da população do campo sem deixar de continuar produzindo alimentos saudáveis para pôr à mesa da população.
De acordo Emerson Batista – coordenador do Assentamento, tendo em vista que estamos vivenciando a maior crise sanitária vista nos últimos 100 anos, continuamos com a rotina do assentamento, porém dividindo em núcleo menores de pessoas e seguindo todas as orientações da OMS (Organização Mundial de Saúde); como o distanciamento social, uso de máscara e álcool gel.
Ele destaca que, para o MST, a Agricultura Familiar é a principal responsável pela produção de alimentos, mesmo em tempo de pandemia devido ao COVID-19. “Isolamento social significa isolamento produtivo, produzindo alimentos como: o leite, legumes, verduras e muitos outros que estão em processo de produção. Assim como os cuidados com a saúde são importantes, a produção de alimento também”, conclui Batista.
De acordo com o censo agropecuário de 2017, realizado pelo IBGE, 77% dos estabelecimentos agropecuários são classificados como sendo de agricultura familiar.
Maristela Cunha da Direção Estadual do MST, reafirma a importância das áreas de assentamentos e a acampamentos manterem a organicidade durante o período em que a crise se perdurar. Para ela, sem dispositivos que garantam a produção de alimentos, o país é capaz ter um problema de abastecimento. “Quem leva alimento à mesa da população é o povo camponês, povos originários, quilombolas, e a agricultura familiar”.
“Então, trabalhos coletivos nos fortalece enquanto lutadores da reforma agrária, precisamos massificar sempre espaços como esses nas áreas de assentamentos e acampamentos, mas não podemos perder de vista que estamos em uma pandemia, que precisamos cuidar um do outro, mas também, dar subsídios às famílias Sem Terras no escoamento dessa produção, livre de contaminação e que assegure à população o direito de continuar se alimentando bem”, conclui Maristela.
A Colheita do Cacau
A produção de cacau foi uma fonte de riqueza do estado da Bahia na década de 80 e 90, mas a vassoura de bruxas deu um fim à essa riqueza. Hoje a produção de cacau vem ganhando destaque, inclusive a produção orgânica. Quem produz cacau reconhece o valor que ele tem. No Extremo Sul, a produção de cacau vem ganhando espaços dentro da Agricultura dos Povos Originários, Quilombolas e Agricultores Camponeses em geral.
As famílias do Assentamento Antônio Araújo, vêm se dividindo no trabalho coletivo para cuidar dos pés de cacaus presentes no assentamento, com a colheita, a poda e cultivo da semente. A atividade vem ocorrendo em núcleos pequenos devido à pandemia, mas, com o objetivo de continuar dando organicidade à área coletiva da produção do cacau.
Maristela Cunha, destaca que as famílias estão organizadas, baseadas no modelo de cooperação e associativismo. Trata-se de uma nova visão do trabalho coletivo. “A atividade é para beneficiamento do coletivo, e não apenas de umas pessoas, transformando os antigos hábitos, agregando conhecimento a nossa produção”, diz Cunha.
As famílias vêm cultivando as sementes na produção de mudas. O viveiro do assentamento possui cerca de 100 mil mudas, em sua maioria cacau, café, cupuaçu, outras frutíferas e plantas nativas, já incentivados pela Campanha Nacional de Plantio de Árvores que tem a meta de plantar 100 milhões de mudas em todo o país.
Os assentamentos possuem uma relação próxima às comunidades circunvizinhas, inclusive desde o início da pandemia, o assentamento vem realizando atividades de solidariedade às famílias carentes da região.
A produção de alimentos agroecológicos vem contribuindo para o diálogo com a sociedade sobre o mau que o uso de agrotóxicos na produção de alimentos pode causar à saúde da população. “O cacau ficou desacreditado durante muito tempo, pois trazia a história de opressão dos coronéis e do desmatamento da mata nativa. Agora, com o reconhecimento da produção cacaueira, que vem se destacando também com o chocolate orgânico como o do Baixo Sul, renasce a história do cacau, sem os traços de antes”, conclui Neuza Souza, do Setor de Produção da Regional Extremo Sul da Bahia.