Por Voz do Movimento
No dia 03 de setembro, a Força Nacional de Segurança Pública chegou na Bahia para acompanhar o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que alega precisar de segurança para entrar nos assentamentos e acampamentos do MST com sua equipe técnica.
Conheça agora, a história de uma Sem Terra que mora no Assentamento Jaci Rocha, que é uma das áreas que está na lista do Incra para essa intervenção da Força Nacional.
Marinalva de Jesus dos Santos, 58 anos, mãe de dois filhos, moradora do assentamento Jaci Rocha, atualmente coordena o Setor de Frente de massa da área.
Seu primeiro contato com o MST foi a 26 anos atrás, com dois filhos para criar, Dona Maria, que estava separada do marido e desempregada, buscou na terra uma alternativa.
O convite, partiu de sua mãe, que já fazia parte de um acampamento do MST. Com relutância, ela ainda se manteve trabalhando em casa de família e até conseguiu um trabalho em uma fazenda para se manter e sustentar seus filhos.
Depois de trabalhar em fazendas e se identificar, Maria recebeu uma proposta de trabalho na cidade, ela encontrou com uma amiga no caminho para a cidade, onde acertaria tudo sobre o trabalho, este encontro fez o rumo da sua vida mudar completamente. Nesse dia ela recebeu novamente um convite para se acampar, e dessa vez largou tudo em busca da sua história e do seu pedaço de chão.
Ao chegar na terra ela encontrou muitas dificuldades, mas também motivos para acreditar na luta, começou a produzir alimentos, aprender sobre a agroecologia e viu ali seus filhos serem educados com respeito e responsabilidade na escola do campo.
Foram 16 anos no acampamento, nesse processo, ela passou por 7 despejos, a cada vez que a polícia era acionada para despejar as famílias, tudo era destruído, moradias, roças e escola, mas a esperança na luta pela terra, fazia com que eles se unissem para construir tudo novamente.
Hoje, Marinalva conquistou o seu lote, no assentamento Jaci Rocha, onde trabalha, tira seu sustento e alimentação com a sua produção agroecológica.
“A luta que estamos travando hoje é uma luta abençoada, eu e meus companheiros podemos viver à vida de uma forma saudável e segura, no campo. Aqui estamos acolhidos e unidos, o MST nos proporciona isso, o que eu nunca tive na cidade” diz Marinalva.
Quando questionada sobre como foi ter enfrentado isso tudo sozinha, tendo que cuidar dos dois filhos, ela diz “Eu tive medo, quando minha mãe me chamou pela primeira vez, disse que não iria, porque precisava sustentar meus filhos, mas depois vi que era um engano. Ser minha própria chefe e poder alimentar meus filhos com minha produção, foi libertador”.
Marinalva hoje trata seu lote como o maior instrumento de sua autonomia, é de lá que sai boa parte do que vai para a mesa da sua família e o seu sustento a partir da comercialização dos produtos.“Não tem dinheiro nenhum que me faça vender o meu lote, ele é muito precioso para mim, e vai ser meu, dos meus filhos e das outras gerações que vão levar o legado da Reforma Agrária Popular” conclui Santos.