Por Felipe Viana, do coletivo de comunicação do MST na Bahia
Em um trabalho que vem sendo constituído desde a formação do Coletivo LGBT, foi realizado, entre os dias 3 e 5 de junho, o primeiro Encontro Estadual LGBT Sem Terra da Bahia, reunindo militantes Sem Terra das 10 regionais do estado para discutir linhas de ação que permitam articular a luta pelos direitos LGBT dentro do contexto de lutas do MST. O encontro aconteceu na Escola de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, localizada no Assentamento Jacy Rocha, em Prado, no extremo-sul do estado.
Além de aprofundar o debate sobre diversidade sexual, o objetivo do encontro foi de reunir e identificar os sujeitos LGBT para construir um espaço em que pudessem se reconhecer, falar de suas vivências e demarcar a existência, resistência e indissociabilidade desses corpos na luta pela Reforma Agrária Popular.
Durante o encontro, aconteceram momentos de fala de membros do coletivo e parceiros, análise de conjuntura política, de estudo e debate, além de espaços para produção de memória, como a pintura da logo do encontro em uma das paredes da Escola Popular Egídio Brunetto. Foram ainda distribuídas aos participantes as cartilhas “Ocupando as redes sociais com close, luta e consciência”, “Diversidade Sexual e de Gênero no MST” e o caderno “LGBT Sem Terra: Rompendo cercas e tecendo a liberdade”, desenvolvidos pelo Coletivo Nacional LGBT do MST.
“O primeiro encontro LGBTQIA + Sem Terra na Bahia era um sonho do coletivo a algum tempo”, conta Luiz Paulo Vaz, dirigente estadual LGBT Sem Terra. “Já foram realizadas rodas de conversa com e sobre os LGBTQIA + nos espaços de discussão coletiva do MST, as quais foram de suma importância para o coletivo. Porém almejávamos algo mais”.
Luiz conta que os corpos LGBT não foram posteriormente inseridos no movimento, mas estão nessa luta “desde o início do MST, quebrando as cercas do latifúndio, nas formações, nas fileiras das marchas e no cultivo da terra. Foi interessante ver esse comprometimento também no decorrer do encontro, tanto nas tarefas dos Núcleos de Base, quanto nas rodas de conversa com os temas propostos, durante as místicas, etc”.
Joaninha, participante do I Encontro Estadual, ressalta a importância do momento para o acolhimento dos jovens LGBT que não têm apoio familiar ou da comunidade. “Muitos jovens não têm com quem se abrir ou confiar para falar sobre sua vivência enquanto LGBT. Até os jovens héteros participando vão ter uma noção de como nos tratar”.
O encontro também convocou as companheiras e companheiros a organizar ações de enfrentamento, resistência e luta em seus territórios, e massificar o debate sobre gênero e diversidade sexual no MST como um todo. “Firmamos o compromisso de retornar às nossas áreas para identificar as LGBT. Alguns assumiram inclusive a representação de suas áreas. Com isso, esperamos aumentar ainda mais a luta, os debates, trazer mais frutos ao nosso coletivo e ao MST”, conclui Luiz Paulo.
Lutar contra a LGBTfobia é lutar contra as formas de exploração e opressão próprias ao capitalismo, racismo e ao patriarcado e, longe de ser uma luta setorial dentro do MST, deve ser feita pelo conjunto da organização, dialogando com os demais movimentos de luta da classe trabalhadora, e tendo como horizonte o projeto da Reforma Agrária Popular.