EDUCAÇÃO

A educação do e no campo teve sua origem nos aprendizados extraídos da luta dos trabalhadores e povos do campo, em diálogo com pedagogia do oprimido e as experiências da educação popular construída no Brasil nos anos sessenta. Portanto, ela é parte constitutiva do movimento político e pedagógico na perspectiva da classe trabalhadora brasileira.

O MST sendo um movimento que surge na década de oitenta ainda sob a ditadura militar, coube ser também um dos principais atores da luta e construção da educação do campo. Neste período não haviam sequer escolas no campo, e as práticas econômicas e culturais desvalorizavam e discriminavam a cultura camponesa fortalecendo a opressão, e a subordinação e exploração dos camponeses, dos trabalhadores e povos indígenas.

O MST sempre defendeu que o Brasil carece de um projeto de educação comprometido com construção de uma nação soberana. Pois, compreendeu que a dependência a subordinação política e a expropriação de nossas riquezas pelo capital estrangeiro, combinado com a exploração do povo trabalhador pelas classes dominantes é um traço da política autoritária, antidemocrática, e antinacional que marca a história econômica e política do país. Disto decorre que a educação levada em curso no Brasil sempre privilegiou as elites e se realizou excluindo os trabalhadores e povos do campo (as) deste direito. Esta é uma das razões pela qual fez-se necessário ao MST lutar por um projeto de educação que inclua e valorize a cultura, os saberes, os conhecimentos e as matrizes formativas dos povos do campo. Com isso o MST passou a incorporar a luta pela educação do campo como parte da estratégia de realização da reforma agrária e de um projeto popular para o Brasil.

No início da luta e organização do MST quase toda a sua base social não sabia ler e escrever. E certamente por isso, os sem terra realizam tanto empenho na luta pela educação. Uma das primeiras coisas que fazem ao ocupar uma terra é organizar um barracão para a escola das crianças. Isso sempre foi muito bonito no MST! Esse empenho das famílias para que as crianças possam ter escolas e possam estudar. As experiências de luta do MST geraram uma nova dinâmica educativa e possibilitou ao mesmo desenvolver a sua teoria e experiência pedagógica.

Problematizando a exclusão dos trabalhadores no campo, o MST se descobre como sujeito coletivo em lutar permanente para conquistar a terra e por novas práticas de trabalho, produção, e de educação e se tornar construtor de uma pedagogia coletiva, contestadora, organizativa e criadora. Não bastava só saber quem eram os sem terra. Era preciso mais que isso. Era necessário refletir sobre si mesmo, quem eram e por que foram “deserdados” do direito à terra, ao trabalho, a moradia e a educação no campo.

A educação do campo na perspectiva do MST, é inseparável do projeto de reforma agrária popular. Ela se ancora em uma concepção pedagógica que valoriza a cultura camponesa, a agroecologia e as formas solidárias e cooperativistas de trabalho desenvolvidos pelos trabalhadores organizados. Ela inclui combater a entrega dos recursos e riquezas naturais do país ao capital e aos países estrangeiros; inclui combater a concentração das terras a favor da democratização da sua posse e uso pelos camponeses e povos do campo. Inclui lutar contra a destruição do meio ambiente e da biodiversidade e o envenenamento da terra, da água, dos alimentos, dos animais e das pessoas que vem sendo realizado pelo agronegócio em conivência com o Estado e governo, Inclui denunciar que o atual presidente Jair Bolsonaro, estar contribuindo para a prática de crimes ambientais praticado pelas empresas rurais ao extinguir os mecanismos de controle e de punição dos crimes ambientais, e que este também estar contribuindo com o assassinato de índios, quilombolas e trabalhadores do campo ao liberar o porte de armas para os fazendeiros.

Significa também manter-se em luta contra o fechamento das escolas, em defesa das políticas educação para a juventude conquistadas nos últimos anos, como o PRONERA. E fortalecer a unidade e a solidariedade da classe trabalhadora do campo e da cidade, na defesa da educação, da natureza, da democracia e da soberania, combatendo os retrocessos políticos e a intolerância e os preconceitos instalados pelas ideologias neofascistas como a escola sem partido, e o autoritarismo do Estado, que vem criminalizando a luta social e o pensamento libertário, crítico e científico, e a cultura rebelde criativa e criadora do povo brasileiro.