O ensino remoto tem sido um grande desafio para a educação básica, especialmente para a educação do campo. Em tempos da pandemia do Covid-19 e ainda sem vacina para todos/as, as secretarias de educação, que colocam a vida em primeiro lugar e mantiveram as aulas presenciais suspensas, optaram pelo ensino remoto para não deixar milhões de crianças e adolescentes fora da escolarização.
O ensino “remoto” representa uma lacuna conceitual, não chegando a ser uma modalidade de ensino em si, mas uma forma precarizada do EaD. A sua implementação sem investimento em tecnologias (principalmente internet nas escolas e conectividade dos estudantes através de aparelhos, como tablet, celular, computador) e em material impresso, gera exclusão de uma parte significativa dos estudantes. No contexto do campo, esta proporção é alarmante – a evasão escolar gerada pela crise social e econômica, se aprofunda agora pelas condições precárias das aulas virtuais.
Um celular para três irmãs que estudam em turmas diferentes dentro de casa. Ir à casa do vizinho para usar o wifi. Se chover, internet cai. Celular quebrou. Esperar a mãe voltar do trabalho para usar o celular dela. Internet fraca para acessar as plataformas. Trabalho na roça o dia todo para ajudar em casa. Migração laboral para sobreviver sem um auxilio emergencial digno. As tarefas domésticas e as crianças para cuidar não ajudam na concentração da aula. Celular sem memória. Internet caiu de novo, agora foi o vento. Ficar no pé do filho para fazer atividades, mas ele entra no celular e acaba se distraindo. Estudar na sala da casa, com toda a família ali, é tão difícil.
Com todas as medidas de prevenção e segurança, esta semana visitamos todos/as os/as estudantes, espalhados em nove comunidades da zona rural de Ituberá, para ouvir as dificuldades, compartilhar as angústias e procurar as soluções. Os estudantes receberam as atividades impressas com alívio. Com esperança que desta vez vai dar para acompanhar melhor os conteúdos. Dizer que é apenas “falta de interesse” não dá conta desta realidade complexa. “Está tão difícil, professora…”. Confiamos muito que as atividades domiciliares vão garantir o acesso mais igualitário aos conteúdos e diminuir algumas dificuldades geradas pelas aulas virtuais.
Agradecemos ao coletivo de educadores/as do MST pela dedicação neste processo, principalmente, no contexto da falta de mais da metade das contratações pela SEC, e à direção da Brigada Costa do Dendê pelo carro emprestado. Agradecemos também às famílias pela recepção e conversas francas.
Sigamos na luta, em diálogo permanente com o povo e no esforço contínuo de buscar condições mínimas para ir implementando as diretrizes da educação do campo!