Por Diangela Menegazzi
Da Página do MST
Oitenta toneladas de alimentos livres de agrotóxicos estiveram no centro de Salvador para serem comercializados durante a V Feira da Reforma Agrária da Bahia. Foram 200 agricultoras e agricultores expondo 100 diferentes variedades de produtos cultivados nos acampamentos e assentamentos do Movimento Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na diversas regiões do Estado.
Segundo Lucinéia Durães, dirigente nacional do MST na Bahia, a feira contribui para difundir o modelo de desenvolvimento que beneficia os trabalhadores e as trabalhadoras, do campo e da cidade. “O modelo de desenvolvimento que interessa ao povo é o que preserva a saúde das pessoas, o meio ambiente e o solo como elementos duradouros. Precisamos ter respeito pelas questões ecológicas e sociais”, afirma a dirigente.
Para Milton Fornaziere, conhecido como Rascunho, também da direção nacional do MST, é preciso debater o discurso do agronegócio que é difundido largamente entre a população. “Nós temos que contrapor essa propaganda que diz à população que é preciso usar veneno para produzir alimentos e para acabar com a fome. Isto não é verdade, pois o número de pessoas famintas cresce cada vez mais”.
A médica Aline Viana, 34, veio à feira após conhecer a proposta da reforma agrária numa palestra oferecida pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Antes disso, Aline tinha outra visão do MST mas, atualmente, sua ideia ampliou. “A feira é um importante evento, pois coloca produtos saudáveis à disposição dos cidadãos, inclusive com um valor mais acessível à população”, comenta Aline.
Além dos alimentos naturais e livres de veneno, a feira está contemplando espaços para plenárias, shows e culinária típica da Bahia. Os debates teve como finalidade pensar, entre outros, os rumos da produção de alimentos saudáveis e da politica brasileira. As apresentações artísticas buscaram resgatar a luta pela terra, com poesias e atrações musicais que enfatizassem o trabalho e a luta pela agroecologia.
Da roça à mesa
José Cláudio do Nascimento, 37 anos, trouxe pra feira amendoim, abóbora, aipim e farinha de mandioca. Os produtos foram cultivados, colhidos e processados no Acampamento Santa Maria, município de Rio Real. José diz que a maioria dos consumidores que tem chegado a sua barraca se preocupa com a procedência dos alimentos.
“Eles perguntam se é a gente mesmo que planta e se eles são realmente sem veneno. Aí eu digo que sim, e que a orientação do MST é plantar sem veneno, que temos que preservar a vida”, explica. Para o agricultor, “veneno significa morte”. “A gente sabe quando há veneno em um solo, ele fica sem vida. É como ver um rio poluído, a gente sabe que ele é um rio, mas percebe que não há vida nele”.
Elisete Mecias Jesus, 42 anos, consome produtos orgânicos pois acredita que isso é um ato político. “Eu compro na feira porque essa é minha contribuição para o mundo”, afirma. Elisete nasceu em Xique-Xique e diz que desde muito nova começou a prestar atenção nos alimentos que comia. Hoje, evita os produzidos com veneno e procura consumir os alimentos da estação. Há 20 anos vive em Salvador, e todas as sextas vai à Feira Agroecológica da Universidade Federal da Bahia. “Penso que isso é investir na saúde”, completa.
O casal Victória Zarcconi, 28, designer, e Fernando Gomes, 33, fotógrafo, fazem questão de comprar diretamente dos produtores rurais e dizem que participam da Feira para estarem próximos ao Movimento e colaborar com a luta. “Estamos aqui porque escolhemos dialogar com os produtores, comprar alimentos saudáveis. Estar aqui também é uma decisão política”, afirma Victória.
Parceria campo e cidade
Carla Siqueira, 39 anos, é cozinheira autodidata em Salvador. Desde que abriu seu próprio negócio, há três anos, compra produtos diretamente de agricultores dos acampamentos e assentamentos do MST. Carla tornou-se uma grande aliada do Movimento e esteve na V Feira Estadual da Reforma Agrária não só como consumidora. “Eu tô aqui na feira auxiliando dois amigos no atendimento, de forma voluntária”. Os amigos a que Carla se refere são Índio e Nê, ambos agricultores de áreas do MST no município de São Sebastião do Passé. Carla se aproximou do Movimento por acreditar na união. “A gente precisa sim se importar com os movimentos sociais e se dar as mãos”.
*Colaboração de Geysson de Oliveira Rocha
**Editado por Fernanda Alcântara