Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Para Voz do Movimento
O Brasil é o segundo país em população negra no mundo, tendo todo esse contingente de negros, o mínimo esperado era ter políticas que os resguardassem e lhes assegurassem direitos, mas ao invés, se vê um país racista com uma grande negação desse racismo que é estrutural na sociedade.
O dia da consciência Negra no Brasil foi criado em 2003 e só reconhecido oficialmente a nível nacional em 2011, mas por que instituir um dia para pensar a inserção e atuação do povo negro, se não existe racismo no país?
O negro no Brasil se percebe marginalizado, excluído e fator atuante dentro das estatísticas que envolvem mortes, passar fome, prisão e desigualdade.
O Brasil registrou 65.602 homicídios no ano de 2017, esse índice cresce com o atual governo e seus ataques as pautas sociais, hoje deste índice 75,5% são jovens negros e negras.
Percebe-se que ser jovem negro e lutar por uma causa social, se torna um ato revolucionário.
Em um bate papo com a companheira e o companheiro do MST, neste dia da consciência negra, trouxemos alguns pontos existentes na nossa realidade historicamente.
Para Kaline Cruz, jovem, negra, mulher, Sem Terra e Agrecóloga
“São três elementos que me constituem enquanto ser e reafirma a luta, gritando aos berros que o país precisa de mudança, não podemos aceitar que a cor da pele defina destino de um ser humano.
Dizer que a riqueza do brasil está concentrada nas mãos de alguns poucos, só da veracidade a fala e a prática de desigualdade, a história mostra que há uma dívida com o povo negro, e essa dívida tem que ser paga, reparada, porque é um dos fatores que torna a sociedade mais bruta e desigual, é ensinado nos livros de história que as portas da senzala foram abertas, e os mesmos foram jogados ao ermo sem nenhum amparo.
Trazendo o agravante da cor da pele e sendo mulher, me faz pensar se serei ou não estatística, por que a mulher negra tem sido vitima, tem todo um histórico de subordinação ao homem, e por mais que os tempos passem, isso ainda continua latente, mesmo no campo também é refletido esse peso quando os homens se reafirmam enquanto senhores do lar, e tomam pra si todo espaço de poder, inclusive o de fala e de tomadas de decisões.
E infelizmente o governo não tem contribuído em nada para mudar o fato de que existe racismo.
Ser mulher, jovem, negra e sem terra, lutar por uma causa onde o país se torne igualitário, já se vislumbra o que é ser revolucionário” Conclui Cruz.
Todas as beneficies do Estado, que por sinal é direito de todas e todos e que lhe é assegurado por lei, é negado ao povo negro, desde o básico que é saúde e educação.
Todos esses processos contribuem para a marginalização e exclusão social, onde o governo incita e promove toda brutalidade.
“Ser sem-terra é ser vítima de um problema social gerado pela negação histórica da Reforma Agrária aos negros libertos pela lei áurea”. Diz Raumi Joaquim de Souza, cantor e compositor, também jovem negro e Sem Terra.
“Somente a abolição, sem uma política de reparação que permitisse o acesso à terra aos trabalhadores negros, não foi suficiente para garantir a dignidade do povo brasileiro. Portanto, com uma grande quantidade de pessoas sem terra e sem direitos sociais, foi gerado um contingente de pobres que consequentemente são negros e vice versa.
A cor da pobreza no Brasil é negra e o negro é também um cidadão sem terra. Sem Terra, Pobre e Negro, são três fatores interligados e compõe a maioria do povo brasileiro.
Se esses três fatores estiverem articulados por meio de uma consciência de classe que provoque uma estratégia de luta para reverter esse quadro, ai teremos um fator revolucionário” Finaliza Souza.
Os negros são os mais excluídos e maltratados socialmente no Brasil e é imprescindível que encontrem espaço dentro das reivindicações de classe e das lutas de classes.