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Gestão e valorização da agrobiodiversidade: seminário debate estruturação da rede produtiva da mandiocultura, produção de farinha e derivados no Extremo Sul da Bahia.

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

Para Voz do Movimento

 

Derivados da mandioca contribuem na agricultura familiar no Extremo Sul da Bahia

Nos dias 24 e 25 de outubro, cerca de 100 pessoas entre elas, agricultores e agricultoras representantes das casas de farinhas dos assentamentos e acampamentos, pesquisadores, representantes do governo do estado, equipes técnicas e setores de produção e comercialização da Regional Extremo Sul se reuniram na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, localizada no município de Prado, para debater a produção e o processamento da mandioca e a comercialização, durante o “I Seminário da Rede Produtiva da Mandiocultura, Produção de Farinha e Derivados da Regional Extremo Sul”.

Durante esses dias foram discutidos o panorama da produção da mandioca, das casas de farinha e suas estruturas, seus produtos, a formação e a gestão da produção e comercialização, os aspectos relacionados à sustentabilidade ambiental da atividade, assim como a valorização do patrimônio associado à agrobiodiversidade do território.

Um estudo foi realizado recentemente na região para diagnosticar a situação das casas de farinha em 30 áreas de acampamentos e assentamentos da reforma agrária, localizadas em 11 municípios. Na oportunidade foram entrevistadas133 pessoas, produtores e produtoras de farinha de mandioca, em 107 casas de farinha. O estudo estima que existam cerca de 180 casas de farinha dentro dessas áreas, com 1.280 famílias envolvidas diretamente na produção de 340 toneladas mensais de farinha, evidenciando a força produtiva da agricultura familiar nas áreas de reforma agrária da região.

O diagnóstico apontou que entre os principais tipos de farinha produzidos, quatro deles merecem ser destacados, em termos de produção e consumo. A farinha branca e fina é a mais produzida e a mais consumida no território, seguida pela branca e média, branca e grossa e a manipuba, esta última também conhecida como farinha de puba, é a preferida pelos povos indígenas da etnia Pataxó, e é comercializada nas aldeias ao redor do Parque Nacional do Monte Pascoal.

A farinha de mandioca produzida nos assentamentos do Extremo Sul da Bahia apresenta qualidades de sabor, textura e aroma diferenciadas, com potencial para suprir a demanda dos mercados mais exigentes da região e de outras regiões do país. Sua produção artesanal faz parte da cultura tradicional do território, cujos conhecimentos e práticas têm sido referência para a produção nos assentamentos, valorizando assim a agrobiodiversidade e os conhecimentos tradicionais associados à mandioca e seus derivados.

As variedades de mandioca cultivadas nessas áreas podem conter mais de 40 tipos, dos quais 37 foram identificados e detalhadamente descritos em estudos etnobotânicos e genéticos. Duas delas são principais na produção de farinha: a variedade “caravela” é a mais plantada e utilizada em cerca de 80% das casas de farinha; e a variedade “calipinha”, também conhecida como “cachoeirinha”, é utilizada em 70% das casas de farinha. As variedades “unha”, “manteiguinha”, “pretinha” e “buticuda” foram mencionadas entre 10% a 30% das casas de farinha. As demais variedades são utilizadas por menos de 10% dos produtores da região.

Esse estudo foi realizado dentro das perspectivas de ação do Projeto Assentamentos Agroecológicos (PAA), com vistas a contribuir na estruturação da rede sustentável da mandiocultura no Extremo Sul da Bahia. Segundo o pesquisador Fábio Frattini, “os produtos da agrobiodiversidade da mandioca na região estão relacionados com a diversidade biológica e ecológica da agricultura local e com os conhecimentos tradicionais que estão embutidos nessa diversidade. Temos uma cultura rural muito rica associada a uma diversidade agrícola igualmente rica no Extremo Sul da Bahia”, destaca o pesquisador.

Segundo Roberta da Silva, do Setor de Comercialização da Regional, “a discussão no seminário foi ampla porque queremos abrir o leque de possibilidades da cultura da mandioca, fortalecer a produção de farinha, seus derivados e outros produtos”. Nessa perspectiva, foram discutidos os aspectos agronômicos da produção, com o objetivo de melhorar a produtividade por meio de práticas agroecológicas, questões relacionadas à gestão dos diferentes tipos de casas de farinha existentes no território, ao perfil das famílias e das organizações coletivas, à comercialização, agregação de valor, sustentabilidade ambiental e identidade sociocultural.

“Com esses conhecimentos, podemos desenvolver a atividade e o mercado local, regional e até para exportação da mandioca e seus derivados. A regional tem um grande potencial para a rede da mandiocultura, mas temos boa parte da produção atual vendida por meio de atravessadores, ou seja, sem agregar valor ao produto. Por isso, surgiu o interesse em realizar o seminário, para provocar a sociedade e os produtores nessa organização da rede produtiva. O objetivo é transformar a rede produtiva da mandioca em um arranjo catalisador de desenvolvimento local e territorial e da massificação da agroecologia, para que essa rede seja utilizada da melhor forma possível, gerando emprego e renda na região”, destacou Roberta da Silva.

 

📸🚩 Confira as fotos do do Seminário “Rede Produtiva da Mandiocultura, Produção de Farinha e Derivados da Regional Extremo Sul”

https://photos.app.goo.gl/s9buWfZZB1ncE9TUA