Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia.
Na manhã dessa terça-feira(26), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em sinal de repudio e indignação contra a decisão do governo federal, governo do estado e a empresa privada CODEVASF de despejar mais de 700 famílias no norte da Bahia, foram para as Brs 101 e 324 para fazer sua voz ser ouvida e mostrar a resistência frente aos desmandos do governo.
As ações truculentas e brutais dos policiais, deixaram pessoas feridas, e em resposta a essa falta de compromisso e omissão do estado, o MST, decidiu ocupar as Brs, para reivindicar os direitos instituídos pela constituição federal e que estão sendo tratorados pelo atual governo.
“É necessário uma dose cavalar de crueldade para impedir tantas famílias de construírem cotidianamente sua dignidade e o futuro de seu filhos.” Expressa Lucineia Durães, Dirigente Nacional do MST na Bahia, que deixa a sua indignação ao estado por desamparar tantas famílias a total controle do capital.
A resistência a esses 329 dias de governo Bolsonaro vem sendo árdua, as ofensivas que já se viam na campanha são vividas na pele das trabalhadoras e trabalhadores deste pais, cenas como as desta segunda-feira(25), faz lembrar o passado e enxergar o retrocesso que o pais vive, e em resposta a isso o MST resiste e mostra a sua força e organização na defesa dos direitos de todos e todas.
“Aqui está a produção dos Sem Terra: uva, goiaba, feijão, mandioca e etc. E a produção da polícia a mando do governo federal: bala, feridas, cercos, destruição das escolas e da plantação, mas RESISTIREMOS!” Conclui Durães
Durante toda a ação, foram distribuídos alimentos oriundos das áreas de acampamentos e assentamentos, uma produção livres de veneno e que não agride a natureza.
Importante ressaltar que houve diálogo com os motoristas e caminhoneiros e que os mesmos se solidarizaram com a causa de luta e resistência do povo Sem Terra.
A ação do povo Sem Terra rendeu cerca de 140 quilômetros de congestionamento por toda a Bahia, a ação que aconteceu nesta terça- feira foi um grito de resistência em alto e bom som para o governo e os demais algozes de que não recuaremos um passo da nossa liberdade.
A repercussão deste ato imoral do Governo Federal junto aos outros poderes foi nacional e mais de 50 plataformas de comunicação veicularam a imoralidade acontecida no Norte da Bahia. Mais de 30 entidades entre partidos e organizações sociais prestaram a sua indignação a essa injustiça e declararam total apoio ao MST.
Ao fechar as Brs, cerca de 700 Sem Terras estiveram resistentes e indignados com o processo arbitrário do despejo.
A nossa rebeldia é diferente, ela é expressada nas nossas plantações sem veneno, na transformação social, na educação do campo, nas mobilizações para diálogo com a população e principalmente através da nossa Cultura, a cultura do povo do campo.
Expressamos através das nossas músicas cantadas nas ocupações e principalmente nas mobilizações como fechamento de BR e através de nossas poesias que por meio das letras externamos nossa alegria, dor, sofrimento e força para resistir.
Djacira Araújo, Sem Terra, educadora, militante, expressou de forma vivida a dor e a luta sem terra e acima de tudo nossa resistência e rebeldia, segue as palavras que traduzem o despejo sofrido pelas famílias do Norte da Bahia.
REERGUEREMOS NO RAIAR DO SOL
“A injustiça sentencia a violência:
A bomba,
O gás,
O tiro,
A justiça justifica
A tirania do general
A ganancia do agronegócio
A ditadura cruel da “justiça”,
O despojo dos humildes
A expropriação do sonho
Dos humildes da terra,
Dos despossuídos da nação.
A mãe esconde atrás de si a pequena
Frente aos ataques impiedosos dos policiais.
A sem terrinha chora.
O helicóptero sobrevoa mira os alvos: somos nós.
Estamos em pé, desarmados, mas sem dobrar a cérvice
Enfrentando os lacaios do agronegócio com seus revolveres, fuzis e bombas.
Deu-se o início da batalha.
Homens e mulheres da terra! A batalha não cessou, é ilusório o armistício!
O trator avança sobre a escola,
Viola-se o direito a infância
Destrói paredes, sonhos, aprendizados
O decreto do despejo
Atinge alvo:
A infância sem terra,
Os sem terrinha,
O camponês,
O sem terra,
O MST
A reintegração é salve o agronegócio.
Lar destruídos. Já não há abrigo.
Os homens e mulheres da terra, sem terra, sem pouso,
Sem repouso, sem seu roçado.
Os usurpadores apropriam-se da terra,
Das lavouras,
De tudo que nela haviam semeado.
Os sem terra não são mais só sem terra,
São sem lar, sem pátria, sem lugar.
A nossa dignidade foi ferida,
Mas a reergueremos!
E semearemos de novo os sonhos,
E voltaremos!
E cuidaremos da mãe terra,
E protegeremos nossas crianças.
Edificaremos a escola do campo, a escola do povo!
Renasceremos,
Homens e mulheres insurgentes,
Como um povo Livre que se reergueu no raiar do sol.
Venceremos!”
A luta do MST nunca foi e nem será só por terra, cultivamos vida, produtos saudáveis, educação, saúde, informação e libertação e por isso seguiremos lutando e resistindo até que a transformação social aconteça.